11.3.07

Sei que pode resultar...

Joana estava sozinha aquela manhã. Acordou cedo, não tinha dormido bem. As saudades estavam a começar a pesar. Teve vontade de ver o mar, isso iria aproximá-la de Diogo. O dia anterior tinha provocado um turbilhão de emoções dentro dela; não tinha vontade de chorar, apenas de se compreender e de se explicar. Teve saudades do abraço de Diogo, do sorriso do seu pai, da preocupação constante da sua mãe, do carinho da sua Kiki. Pensou que o melhor a fazer seria ir dar uma volta de carro, para perto do mar e para longe de tudo aquilo que a estava a perturbar. Antes de sair, escreveu:
“Também eu gostava, Diogo, que pudesses entrar dentro da minha cabeça para me poderes entender. Não gosto quando me agradeces ou me pedes desculpa, não estou a fazer nada de mais, nada de especial, gosto muito de ti. Nem sei se te devia dizer isto, não quero que as minhas palavras sejam um peso para ti, quero que sejas feliz acima de tudo. Acredita que sou sincera. Muitas vezes gostava de ter força para te mandar embora daqui, para te conseguir obrigar a seres feliz; outras vezes gostava de ter força para te mandar ficares aqui, para te obrigar a seres feliz. Entendes?
É verdade que muitas vezes a tua frieza me magoa, mas jamais me fez hesitar, aquilo que nos une é demasiado forte para que eu não compreenda o que vai na tua cabeça. Acredita que a tempestade que vai dentro de ti muitas vezes me arrasta sem me dar tempo para me agarrar. Mas o teu olhar, mar calmo e tranquilo que me aconchega dá-me tudo aquilo que eu preciso. Não quero que sejas o melhor do mundo, quero que sejas tu. É de ti que eu preciso. Sei que não entendes bem porque continuo aqui, porque te continuo a querer, porque te entendo e aceito; pois bem, vou então dar-te uma explicação…
Penso muitas vezes se serei frágil como quase todos me julgam ou se, pelo contrário, tenho a força que poucos me reconhecem…Penso talvez conjugar a cada instante estas duas potências, a força e a fraqueza, o gelo e o fogo. Não sei porque mas tu consegues reconhecer em mim cada um destes estados, penso que serás assim também. O teu abraço que me envolve, derrete todo o gelo quando me sinto frágil e as tuas palavras duras conseguem amenizar o fogo que me consome, puxas-me para a realidade.
Quando nos conhecemos, o teu interesse exclusivo pelo meu trabalho, ignorando os meus olhos verdes, fez-me ver que valias a pena. Agora sei que este mar verde sempre te fascinou, mas na altura conseguiste dar valor apenas ao que realmente importava. Conseguiste num almoço, conversar sobre os teus sonhos, a tua vida, os teus objectivos com uma sinceridade que me cativou, nada daquilo poderia ter sido estudado, não nos conhecíamos, mas éramos tão parecidos; é por isso que me revolto quando os outros falam das nossas diferenças, os outros sabem lá…
Até na tua fúria, no teu mar revolto e cortante me consegues confortar, sei que serás sempre sincero comigo, verdadeiro. Como sabes, na minha vida, tem faltado alguma verdade e sinceridade, é tão bom poder confiar em ti.
Não quero que sejas mais do que aquilo que és. Porque gosto de ti?! Porque nunca ninguém me tinha chamado cor-de-rosa, doce, nunca ninguém me tinha oferecido um sorriso só para mim ou um ombro para chorar, ou dormir. Porque nunca ninguém me conheceu assim como só tu conheces e ainda assim não te envergonhas de mim. Porque ninguém se preocupou como tu, se estou doente ou se não me alimento bem. Porque ninguém me ofereceu rosas como tu. Porque ninguém olhou para mim com a ternura que tu me ofereces. Porque me levaste a conhecer o teu mundo, apesar do meu medo, só por saberes o quanto isso é importante para mim. Porque apesar de saberes que me perturba, me contas quando estás com ela, porque posso confiar em ti. Porque sei que também tens medo de me perder, porque tens medo de nos perdermos, porque tens medo que eu me perca quando estou sozinha, e eu também tenho medo.
Porque somos diferentes, mas nunca me fizeste sentir que tinha que mudar. Porque fizeste por mim algo que eu sei que não mereço e que nunca te vou conseguir agradecer, apenas posso gostar de ti com todas as minhas forças, apenas posso querer, mais do que tudo, ter-te aqui sempre comigo, bem pertinho de mim.
Entendes agora o porquê?!

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu percebo e embora em mim a força consiga escapar, tenho muita para vos dar aos dois!

Não desistam, sei que conseguem ..