5.12.06

Será que ainda posso usar calças com buracos?! XVI

Quando aquela amiga lhe perguntou, sem saber da história deles: “Atão o Diogo e a Filipa já devem estar a casar, certo?!” – Joana ficou calada, sem saber o que dizer. Aquela pergunta puxou-a para a realidade com tal intensidade que se sentiu incapaz de regressar ao sonho.
- “Diogo, isto é a maior loucura da minha vida, não consigo parar de pensar em ti. Acredita que não queria gostar de ti, mas e agora vou fazer o quê?! Aquilo hoje de te deixar no quadro aquele bocadinho da letra da música e tu afinal já a andares a ouvir, deixou-me fascinada. Não imaginava que isto acontecesse. Estou a sonhar?! Sim! E queria não ter que acordar!” – Pensou Joana ao mesmo tempo que os olhos estavam colados à capa do livro que tinha que ler com urgência: “Estratégias Práticas para a Intervenção Precoce Centrada na Família”.
Aquele fim de tarde tinha sido doce. Aquele Outono estava, sem dúvida, a protegê-los; trazia a chuva para os envolver; abraçava-os com aquele frio. Quando entrou na sala, chateada e Diogo a puxou para perto dele agarrando-lhe na mão, Joana sentiu os joelhos a tremer e desejou que não estivessem ali.
Mais tarde, quando saíram do trabalho, Diogo seguia no carro à sua frente. De repente viu-o virar bruscamente para a direita; olhou para a estrada e viu um gato mesmo em frente das rodas do carro, virou também para a direita. Encostou. Estava a tremer. Quando Diogo saiu do carro e veio em direcção dela, ainda pensava em como poderia ter atropelado o gato. Estava assustada. O toque dele na sua mão e mais um beijo na testa. Seguiu para casa.
- “Boa! Agora também temos gatos na nossa história! Não posso mais continuar a ler aquele “blog”, aquelas palavras parecem as minhas, demasiadas semelhanças comigo, contigo, e agora isto do gato?!! – Pensou Joana enquanto seguia pela Via do Infante.
Quando estava em casa foi recebendo mensagens no telemóvel. Consecutivas. Era Margarida, estava triste, magoada e desiludida com a vida, com os homens, como ela mesmo dizia. Joana procurou acalmá-la, gostava muito dela, sempre tivera aquela dificuldade em confiar nas pessoas e fazer amizades, mas agora tinha sido diferente, sentia-a como uma amiga.
“Margarida, estou aqui. Não me vou embora. Prometo.” – disse, na tentativa de a acalmar. E decidiu que ia cumprir aquela promessa, custasse o que custasse. Decidiu não ir embora. Por ela mesma. Por Margarida. Por Diogo. Joana tomou aquela decisão com tal determinação que nem pensou nas consequências que aquilo poderia trazer. Lembrou-se então de Filipa. E de Inês. Chegou à conclusão que as razões que tinha para ficar eram muito mais válidas que as que tinha para ir embora.
(continua)

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