15.11.06

Será que ainda posso usar calças com buracos?!

Mal passou a porta e a chuva lhe bateu com força na cara, Joana não conseguiu esconder um enorme sorriso. Em gestos automáticos atirou tudo para a pasta. Era o fechar de mais um dia, papeis, materiais, arrumados ao acaso. Antes de entrar no carro, deixou-se ficar encostada à porta. Um silêncio total e a noite intensa. Estava completamente ensopada, ao primeiro arrepio de frio, desejou que o Diogo estivesse ali naquele momento.
Naquele fim de tarde, chovia como se o céu estivesse a cair aos bocados, todo de uma vez. Joana pensou que aquilo só podia ser um sinal. Enquanto seguia pela Via do Infante, mais devagar do que era hábito, tentava a toda a força espantar aquele pensamento. Aquela pergunta da colega, pouco tempo antes de sair do trabalho:
- Joana, estás apaixonada?! - Atirou a Margarida para o ar, qual tiro certeiro.
- O quê?! Eu apaixonada?! Nem pensar! - Respondeu a Joana o mais rápido que conseguiu. E achou melhor dar a conversa por terminada. Isto de partilhar sentimentos não era para ela.
- Ok, vai-te lá embora, mas não penses que te escapas...Tens os olhos a brilhar! - Argumentou a Margarida sem se dar por convencida.
Aumentou o som do rádio e deixou-se embalar pela música: “Para gostar tanto assim de alguém como tu…”. Caraças, nem a porcaria do rádio ajuda, pensou. E irritada desligou com força o botão. Deixou-se ficar em silêncio e foi deslizando até casa.
E agora naquele seu momento de tranquilidade, o prazer de sentir o cabelo molhado a escorrer pelas costas, sentiu-se de novo criança. O espelho da casa de banho completamente embaciado, não resistiu…Um enorme coração desenhado com o dedo. Joana “love” … Não teve coragem para escrever mais nada...
- Isto é uma parvoíce, já não tenho quinze anos! – A voz traduzia alguma saudade de outros tempos. Deu um puxão repentino na toalha que estava por ali largada e apressou-se a limpar o espelho, numa tentativa de limpar também os seus pensamentos.
No quarto, enquanto se vestia, não resistiu a procurar no telemóvel um SMS do Diogo: “Tem uma nova mensagem do Eduardo” – Avisava o visor.
(continua)

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