28.11.06

Será que ainda posso usar calças com buracos?" XIII

Joana chegou a casa e escreveu sem parar, mecanicamente, e por cada palavra que escrevia sentia-se mais aliviada. Funcionou como terapia e no fim, quando gravou no “blog”, sentiu-se mais calma, como Diogo lhe tinha pedido. Leu o que tinhas escrito e foi dormir:
“Escrevo sem sentido, sem rumo, deixo-me levar pelas palavras que me puxam, por palavras que sinto não saber se são as certas ou as erradas; porque me sinto frágil; porque me sinto sozinha.
Escrevo para te dizer a ti, minha princesa, que também eu tenho medo de me perder de ti no meio de toda esta confusão em que se tornou a minha vida. Não te preocupes porque eu vou estar sempre por perto, vou cuidar sempre de ti, vou amar-te sempre e para sempre e mais do que a qualquer outra pessoa. Sinto tanta falta de me dizeres que gostas muito de mim. Sei que sou tua Tia e que devia cuidar de ti e aconselhar-te, mas preciso tanto de ti. Preciso que me faças festinhas no cabelo e me deixes chorar. Preciso de te contar que a Filipa já sabe de mim, o Diogo contou-lhe. Preciso de te contar que não suporto saber que ela está a sofrer por minha causa, assim como não suporto sentir que sou eu que estou “a mais” nesta história. Tu sabes como me estou a sentir. Então explica-me porque tenho sempre que me sentir a mais?! Diz-me porquê. Sinto-me tão culpada, sinto-me a pior das mulheres. Preciso que me digas que mesmo assim ainda te orgulhas de mim. Preciso de te contar que ontem recebi um beijo na testa colado com fita-cola. Preciso de te contar que hoje o Diogo me disse que eu estava linda. Preciso que me dês colinho. Preciso tanto de vestir as minhas calças com buracos…Eu sei que precisas que eu deixe os “meus meninos” por um dia. Sei que estás cheia de ciúmes e com medo de ser trocada…Então preciso de te dizer que és uma tontinha! Penso em ti todos os dias. Adoro-te. Mas prometo-te que um dia destes vou passar a buscar-te com o rádio do carro no volume máximo, de boné, sapatilhas e com as calças mais rasgadas que conseguir arranjar. Prometo que vamos comer gelado com colher de sopa. Prometo que vamos para a praia apanhar bichinhos e principalmente prometo que te deixo sujar-me o carro! Sabes…Gostava que conhecesses o Diogo. Sei que te vais assustar e achar que ele é muito sério, que não vai gostar de ti. Tenho a certeza que vais morrer de ciúmes dele. Mas sei que vais gostar muito dele, sabes porquê?! É que ele também acha que a utilidade da varanda de uma casa é para ter um cão!
Escrevo para te dizer a ti, Diogo, que também eu estou a sofrer. Para te dizer que não suporto a ideia da Filipa estar a sofrer por minha causa. Sabes bem que nunca desejei que isto acontecesse. Esta manhã disseste-me que eu escolho sempre as palavras erradas e que a razão eu ia descobrir. Eu sei bem qual é a razão. Chama-se insegurança. Uma insegurança que vem de há muito tempo. Uma insegurança que me faz afastar as pessoas de quem gosto. Uma insegurança que me faz escolher sempre as palavras erradas. Uma insegurança que me faz mandar-te embora quando só quero que fiques. É verdade, também eu estou triste. Triste porque me sinto perdida. Triste porque preciso daquele beijo e daquele abraço; preciso de todos os teus beijos e de todos os teus abraços. Um dia destes vamos sair daqui, para algum sítio entre o teu mundo e o meu mundo. Preciso de ti, fora do teu mundo. Preciso de mim fora do meu mundo. Estou com medo e preciso do teu conforto. Preciso das tuas festinhas no meu cabelo. Preciso de beijos na testa colados com fita-cola. Preciso cada vez mais de te contar uma história, a minha.
Escrevo para te dizer a ti, minha mamã, que não precisas de te preocupar, que eu estou bem. Escrevo para te dizer que se hoje fugi à tua pergunta, não foi por mal. Talvez um dia destes te possa responder. Não te preocupes porque eu não deixei de acreditar no amor. Não tenhas medo, eu sei bem que a profissão não é o mais importante do mundo.
Escrevo para te dizer a ti, papá, que ainda vais ter um neto de olhos verdes e que o vou deixar muitas vezes contigo para que o possas ensinar, como fizeste comigo, que nada se consegue sem esforço e que o respeito pelos outros é o mais importante da vida. Prometo que vou educá-lo como fizeste comigo, sem as “manias da psicologia”. Mas sabes papá, tenho medo de não conseguir.
Escrevo para te dizer a ti, avô, que estou quase a realizar o meu sonho. Tenho pensado muito em ti, queria tanto que te orgulhasses de mim. Olha, vais estar lá comigo no dia da minha defesa de monografia?! Este ano no dia do teu aniversário já serei a primeira psicóloga da família, será esse o meu presente. Sabes, já contei ao Diogo que converso muitas vezes contigo. Um dia destes conto-lhe mais coisas sobre ti, pode ser?!”.
(continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Claro que gosto de ti . Claro que te adoro . Claro que continuas a ser um exemplo a seguir . Claro que continuo a orgulhar.me muito de ti . Claro que continuo a sonhar com a compra de umas calças sem buracos . Mas claro que tambem tenho saudades de ver as calças rasgadas em ti . Saudades de quando me ias buscar à escola e punhamos o volume no maximo . Saudades de quando iamos passear para a praia . Saudades de quando apanhavamos carochinhas . Saudades de comer fatias e fatias de bolo de chocolate .
Tal como tu, tambem eu sinto falta de festinhas na cabeça . Mas nao te preocupes . Sei que podes crescer mas vais continuar a adorar.me . Sei que podes ir viver para longe mas que vais estar sempre comigo . Sei que podes ir à Lua mas que me levas contigo . E não tenhas medo . Claro que vou gostar do Diogo . Se tu gostas e se ele te faz feliz, então eu gosto também . Nao fiques triste nem tenhas receio . Eu estou aqui . <3