23.11.06

Será que ainda posso usar calças com buracos?! X

Joana estava a começar a ficar preocupada com ela própria. Estava tão triste como o dia, desanimada. Sentia-se sem rumo, perdida, sem sentido.
Procurava a todo o custo animar-se. Naquela manhã leu aquela mensagem centenas de vezes e de cada vez que a leu, sorriu. O telemóvel recebeu, naquele momento, uma mensagem. Era Diogo. Joana teve a sensação de que aquilo era a coisa mais bonita que já lhe tinham dito. Sentiu que ele era tão especial. Sorriu novamente.
Aqueles dias tinham sido tão esgotantes e ao mesmo tempo tão mágicos, tão diferentes e tão envolventes que Joana nem se sentia capaz de os descrever…Tinham sido, para além de tudo, reais.
Aquele toque…
Joana sentiu-se incapaz de descrever aqueles momentos, sentia-os, desejava-os.
E a data da defesa do projecto de final de curso. Estava ali. Tão real também. Estava empenhada em ter uma boa nota, claro. Mas estava esgotada, cansada. Ao ouvir a data, teve vontade de avisar Diogo. Não disse nada. A orientadora estava ali, ansiosa por definir pormenores, acertar conceitos fundamentais. Mas Joana estava tão longe. Foi acenando com a cabeça, conhecia tão bem aquele projecto que as respostas apareciam, mecânicas. Abriu discretamente o caderno de apontamentos e deixou-se levar. Precisava de registar tudo aquilo que aquele toque tinha despertado nela. Escreveu.
“Flores Alegres
Esta noite é contigo que vou sonhar…
Tu estás aqui. Enrolas-te a meu lado como se tivesses medo…
Mais uma vez, aquela estranha sombra percorre o nosso olhar.
Sorris…Os teus olhos brilham na noite, suspiras aos meus lábios.
Estou feliz e a minha alegria morde doce a tua boca…
Chovem em mim as tuas palavras e quentes percorrem o meu corpo.
Fecho os olhos, envolvemo-nos num abraço tão profundo que nem mesmo a noite parece existir…
Quem me dera não estar apenas a sonhar.
Ansiosa, tremo ao contacto da tua pele. Mesmo sem nunca ter existido esta proximidade, o teu corpo deve conhecer cada parte do meu.
Com esta infinita doçura transforma-mos o medo e esqueço, quando os teus braços me acolhem.
Espero dizer tudo nestas palavras que quase não nascem e que te ofereço nos meus beijos.
Imagino para nós todo o universo.
A lua, as estrelas, flores alegres, centenas de beijos.
Quando for hora de partir, se o vento transformar em fumo este sonho, fecha os olhos.
Porque em sonho tudo é possível: Nada apagará “aquele” beijo. “(continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Do outro lado, enquanto os limpa pára-brisas dançavam para afastar a chuva, Diogo desejava não chegar a casa, não ter que fingir sorrisos, inventar assuntos, seguir conversas que não ouvia... queria não ter nada, para ir depois descobrindo tudo, livremente sem o social a pressioná-lo. E senão houvesse dor e se todos conhecessem os seus sentimentos, todos iriam compreender, todos iriam festejar. Fogo de artíficio para as estrelas se desviarem, aborrecer a lua que nos segue desde crianças e começar tudo outra vez.
Mais uma sessão de ioga. A introspecção dá-se cada vez com mais dificuldade, o som da chuva lá fora mantém-no a sonhar. As suas leituras, os seus poemas, as suas palavras, as suas preocupações, o seu rosto leve, a sua pequena mão crispada depois de um toque intenso que nem sabe se recebeu resposta, o olhar... tudo vem de repente ao seu pensamento. Tem de abanar a cabeça, para a tela q pensa e faz inveja a Vieira da Silva, desaparecer por instantes... não importa, ela voltará daqui a cinco segundos.
O adormecer faz-se sempre fora da cama... o dia de amanhã será melhor porque estará com ela. E nesse momento... a lua volta a persegui-lo... como a uma criança.